Quem são os jovens de hoje?




Os jovens afirmam que os cultos são desinteressantes, demorados e desatualizados
O fortalecimento da fé e o amadurecimento da vida cristã entre os jovens preocupa as lideranças
Equipe de Jornalismo
A palavra "juventude", geralmente, remete a descobertas, beleza, alegria, vivacidade, entre outros aspectos positivos. Jovens se organizam em grupos, sua linguagem é única e a busca pela novidade é constante. Se por um lado possuem tantas características boas, por outro vivem uma realidade preocupante. É nesta faixa etária – dos 15 aos 29 anos – que se encontra parte da população brasileira atingida pelos piores índices de desemprego, evasão escolar, falta de formação profissional, mortes por homicídio, envolvimento com drogas e criminalidade. Segundo dados do Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 47,8 milhões de habitantes entre 15 e 29 anos, dos quais 34 milhões têm entre 15 e 24 anos. Os estudos apontam que pelo menos cinco milhões de jovens estão dentro das igrejas, o que forma um contigente populacional considerável. E é justamente este grupo que vem representando um desafio à igreja evangélica. A evangelização, o fortalecimento da fé e o amadurecimento da vida cristã entre os jovens preocupa boa parte da liderança. Ela não os vê comprometidos com o Evangelho integral e não os considera uma geração bíblica, reconhecendo que muitos são resultado da Teologia da Prosperidade e da chamada geração gospel. Pastores como Malaquias Azevedo, da da Igreja Cristo Reina, em São Gonçalo, região metropolitna do Rio de Janeiro, é fatalista ao dizer que a atual juventude “é quase uma geração perdida”. Os jovens, por sua vez, acusam a igreja de ser desconectada da realidade, obsoleta, permanecendo como uma “religião velha num mundo novo”. Afirmam que os cultos são desinteressantes, demorados e desatualizados. Reclamam ainda da hipocrisia, das proibições dogmáticas, das cobranças e do autoritarismo. Em um ponto, os dois lados concordam: é necessário repensar a evangelização e o discipulado de tal forma que a igreja possa oferecer conteúdo teológico mais comprometido com as Escrituras. Como reflexo da pós-modernidade, crescem a oferta e a procura por uma espiritualidade light, mais parecida com terapias psicológicas e harmoniosas. Jovens modernos estão à procura de sentido e emoção que estão além dos limites tradicionais que a religião é capaz de oferecer. A globalização, segundo estudiosos, força a religião a ficar mais difusa, eclética, buscando responder aos que estão preocupados com saúde, desequilíbrio psíquico, ameaça à biosfera, etc. E o atual panorama sociocultural, imerso no capitalismo, estimula os jovens ao prazer egocêntrico, levando-os mais e mais ao individualismo exagerado e cruel. DE QUEM É A CULPA? A influência do movimento gospel sobre a geração que veio após a década de 70, e, de acordo com alguns pastores, trouxe mais malefícios do que benefícios. “Essa ditadura do louvor comercial criou uma geração distante da Palavra, que não tem tempo (nem desejo) de ler a Bíblia. É quase uma geração perdida”, lamentam. Juliana Noruega, que faz parte da nova safra de líderes da juventude brasileira, avalia que o grande dilema ocorre porque a igreja continua com a mesma mentalidade de trinta anos atrás, não percebendo, por exemplo, que na década de 60 e 70 a única tribo existente era a dos hippies. Hoje, existem mais de duas mil tribos, segundo o IBGE. “É uma igreja que se identifica mais com minha avó de 80 anos do que com meu primo de 18”, alerta. A mensagem, segundo ela, só irá atingir os jovens quando a liderança da igreja passar a pregar o Evangelho sabendo analisar o contexto social. “Ao entender quais são as demandas, as crises, as inquietações do nosso tempo, teremos condições de tornar o Evangelho relevante. Reconhecemos que o jovem está desinteressado pela religião; entretanto, nunca houve tamanho interesse pelo espiritual, pelo sagrado”, opina. O descompasso entre liderança/igreja e juventude também se reflete quando o assunto é sexualidade, tema de grande tensão no meio evangélico. Apesar da orientação contra a prática do sexo pré-matrimonial, uma pesquisa com cinco mil jovens crentes feita pela revista Lar Cristão apontou que 52% deles mantinha relações sexuais antes do casamento. É acerca dessa questão que o pastor Malaquias Azevedo, diz que não dá para compactuar. “Dá para negociar tatuagem, brinco em homens, horário para chegar em casa. Mas sexo antes do casamento é pecado. Não podemos modificar as verdades bíblicas”, afirma. Cumprir o que se orienta nem sempre é fácil, porém. Que o diga Wesley Maciel Pardinho, 21 anos, da Igreja Missão Evangélica Vivendo em Cristo. Noivo há quase dois anos, ele se mantém virgem, esperando o grande dia. “É uma luta difícil e constante contra o desejo. Faço isso porque vale a pena ser fiel”, garante. ESTRATÉGIAS “DA HORA” Mesmo diante de tantas dificuldades e desafios, há projetos e experiências que estão no caminho certo. Muitos projetos investem na evangelização de estudantes secundaristas e universitários, levando a mensagem do Evangelho a esse público que está sedento.Igrejas pequenas têm criado estratégias bem elaboradas. Muitas planejam acampamentos e programações simples, mas inteligentes, e trabalham com grupos pequenos a fim de criar vínculos e identidade entre os jovens. E, de acordo com líderes de jovens, tem dado certo.

0 comentários:

Postar um comentário

Comente esta postagem, deixe aqui seu comentário.