O princípio das dores

Jesus faz referência às profecias de Daniel que estamos estudando no texto desta semana (Mateus 24):
3 E, estando assentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?
4 E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém vos engane;
5 Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos.
6 E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim.
7 Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares.
8 Mas todas estas coisas são o princípio de dores.
9 Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.
10 Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão.
11 E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos.
12 E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.
13 Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.
14 E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.
15 Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda;
O estudo das 70 semanas – tema de hoje – é parte de outra profecia, a dos 2.300dias, que dá uma visão de todo o contexto histórico das Escrituras, um pouco antes de Cristo e até o fim dos tempos.
Pontos a ressaltar na profecia de Jesus:
a) O esfriamento. Em linguagem moderna: a desilusão, a náusea, que desde Kafka (vítima de um calvinismo radical; traços também encontrados em Agostinho de Hipona no catolicismo – quem tem ouvidos que ouça), assola a cultura ocidental; passa por Baudelaire, o existencialismo ateu, e pelo spinozismo-nietzscheano que entrou na moda no meio intelectual. Nesta ótica pode-se dizer que é praticamente condição humana, não necessariamente “do final dos tempos”.
b) A divulgação do Evangelho em todo mundo: isto é possível atualmente e está ocorrendo – logo o tempo está maduro.
Na história dos céus (Heilsgeschichte), o tempo está bem adiantado na perspectiva da profecia de Daniel 8:14 (por estudar em outro texto), em especial em certas passagens das profecias do Apocalipse. No entanto, pode levar mais ou menos tempo na história terrena (Weltgeschichte) – ninguém sabe senão o Pai.
Individualmente não faz muita diferença: nossa história individual expira na primeira morte – não há evidência bíblica que orações ou cultos ou missas para os mortos lhes sejam de algum benefício ou utilidade.
* Buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. (Isaías 55:6) – tem data no céu para terminar o tempo da misericórdia.


PROFECIA 2
 E disse Lameque a suas mulheres Ada e Zilá: Ouvi a minha voz; vós, mulheres de Lameque,
escutai as minhas palavras; porque eu matei um homem por me ferir, e um jovem por me pisar.
Porque sete vezes Caim será castigado; mas Lameque setenta vezes sete. (Gen 4:23-24)
 Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra
mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta
vezes sete. (Mateus 18:21-22)
A Lei do AT veio para mostrar aos homens suas iniqüidades, mas não salva. Os fundamentos da
Lei são a justiça, a misericórdia e a fé (Mateus 23:23): Jesus é nosso Advogado junto ao Pai para
nos defender do Acusador, que usa a Lei para nos condenar:
 Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, o aguilhão da
morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso
Senhor Jesus Cristo. (1 Cor 15:55-57)
Como é usual nas Escrituras o que é dito vale no céu e na terra, no contexto e, frequentemente,
num outro contexto maior. A resposta de Jesus tinha um alcance maior: setenta vezes sete = 490.
Este é o número de anos que trata a profecia de Daniel 9:
 24 Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar
a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniqüidade, e trazer a justiça eterna,
e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo.
 25 Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao
Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se
reedificarão, mas em tempos angustiosos.
 26 E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o
povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma
inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações.
 27 E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o
sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e
o que está determinado será derramado sobre o assolador.
A profecia, como toda Bíblia, fala do Salvador, como deixa claro o v. 26. A chave aqui é a
contagem do tempo. Dias equivalem a anos na linguagem profética:
 ... um dia te dei para cada ano. (Ezequiel 4:6)
 Segundo o número dos dias em que espiastes esta terra, quarenta dias, cada dia representando
um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos, e conhecereis o meu
afastamento. (Números 14:34)
Assim, 70 semanas somam 490 dias, logo, 490 anos históricos. Que anos são esses e quando se
inicia a contagem, para que, comparando com os dados históricos possamos confirmar a
profecia?
O v.25 mostra o início da contagem e o tempo que trata a profecia: desde a restauração,
reedificação da cidade de Jerusalém até a vinda do Messias. Houve 3 decretos para restauração
de Jerusalém: o de Cyrus em 538-537 a.C., Darius ao redor de 519 a.C. e Artaxerxes I no ano
457 a.C. Este último é considerado o mais importante e é aquele que, contando os 490 anos
seguinte, coincide com o final da profecia (v. 26 e 27).
O esquema abaixo ajuda a compreender o tempo de que trata a profecia:
2
O v. 25 fala em 7 semanas, isto é, 49 dias, logo 49 anos: foi o tempo para restaurar Jerusalém
desde 457 a.C., finalizada em 408 a.C. – 49 anos após o decreto de Artaxerxes para o início da
restauração. Em Esdras 7 comenta-se os detalhes da restauração.
No mesmo v. 25, mais 62 semanas são contadas, isto é, 434 dias, logo 434 anos após a
restauração de Israel: é quando se dá o batismo de Jesus (27 d.C. nesta contagem).
O v. 27 fala de uma aliança – a Nova Aliança do Cristo com Israel, o povo de Deus. Israel não é
apenas o povo judeu, mas todo aquele que houve a Palavra, aceita Jesus com o Filho do Deus
vivo e a obedece:
 Eis que chamarás a uma nação que não conheces, e uma nação que nunca te conheceu correrá
para ti, por amor do SENHOR teu Deus, e do Santo de Israel; porque ele te glorificou. (Isaías
55:5)
E o Apóstolo dos gentios foi Paulo – mas esta é uma outra história.
No v. 27 a promessa da Nova Aliança durante 7 anos. Em 3,5 anos (metade da semana) o
Santíssimo fará cessar o sacrifício e a oblação: o sacrifício de Jesus, 3,5 anos após o início de seu
ministério, faz cessar o antigo ritual com o sangue dos animais:
 E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se
rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras; E abriram-se os
sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados; E, saindo dos sepulcros,
depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos. (Mateus 27: 50-
53)
O véu do templo se rasga, simbolizando o fim dos sacrifícios secretos; os sepulcros se abrem e a
morte é vencida, respondendo ao desafio de Paulo (no início deste texto): a Nova Aliança está
consumada.
Mas faltam 3,5 anos: é o tempo que decorre depois da morte de Cristo até o sacrifício de Estevão
– primeiro mártir cristão – que, morrendo apedrejado por seguir a Cristo, repete o gesto de Jesus
na cruz, pedindo perdão aos seus perseguidores:
3
 E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram as suas capas aos pés
de um jovem chamado Saulo1. E apedrejaram a Estêvão que em invocação dizia: Senhor Jesus,
recebe o meu espírito. E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes
imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu. (Atos 7:58-60)
Com a morte de Estevão encerra-se o tempo de perdão. E veio o assolador, dando cumprimento
ao final da profecia: em 70 d.C. Jerusalém é destruída pelo general Tito. Confirma-se também a
profecia de Jesus:
 E, respondendo Jesus, disse-lhe: Vês estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra que
não seja derrubada. (Marcos 13:2)
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As profecias das 70 semanas são consideradas um capítulo dentro de um contexto profético e
histórico maior: aquele dos 2.300 dias, que está em Daniel 8:14. Dentro deste contexto, de
particular importância são os 1.260 dias (anos) ou 42 meses ou 3,5 “tempos”, isto é, anos (isto é,
42 meses ou 1.260 dias) mencionados em Daniel e no Apocalipse – tema para outro texto.
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Novamente a questão: por que estudar e (tentar) decifrar as profecias? Porque ajuda a fortalecer a
fé. Há um plano para a raça humana e para cada um de nós. Não é possível ver, tocar, ouvir o
Criador – “somente” temos a sua Palavra através da Lei e dos Profetas e do Verbo encarnado.
Foi pela Palavra que as coisas foram criadas. Quando damos nomes às coisas é que elas passam a
existir, fazer sentido para nós. Foi pela Palavra que Jesus derrotou as tentações de Satanás após
seu jejum. A Palavra purifica-nos, alimenta-nos e fortalece-nos espiritualmente. É pela oração
que estabelecemos contato com o Deus único e verdadeiro.
 6 Buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.
 7 Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao
SENHOR, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar.
 8 Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus
caminhos, diz o SENHOR.
 9 Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais
altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos
pensamentos.
 10 Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a
terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come,
 11 Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes
fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei. (Isaías 55)
São promessas fortes: entender as profecias passadas ajuda-nos a manter-nos na fé das coisas por
vir, tanto para o futuro coletivo quanto individual.
 1 Guarda-me, ó Deus, porque em ti confio. 5 O SENHOR é a porção da minha herança e do
meu cálice; tu sustentas a minha sorte. (Sl16)

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