Pregação, louvor e oferta

Temos afirmado nas pregações, que é pecado grave usar as Escrituras Sagradas para fins que não sejam espirituais. Não são poucos os que se desviaram do caminho e passaram a viver da igreja e não para a igreja. A Palavra de Deus é claríssima, quando diz que aquele que ensinar as coisas erradas às pessoas simples e pequeninas, melhor seria que pendurasse uma pedra no pescoço e se atirasse ao mar. Exagero? Não, certamente. Instruir alguém nos caminhos do engano é conspirar contra o ministério de Cristo. As Escrituras devem ser o manual de instrução. Ela diz o que devemos ou não fazer. E, se ela aponta num rumo, melhor segui-lo, mesmo que isso contrarie nossos interesses. É preferível perder todas as coisas do mundo e ganharmos as coisas da vida eterna.

Paulo em sua I Carta dos Coríntios, ao tratar do dom de línguas, disse que não poderíamos de maneira alguma, parecermos loucos aos estranhos que porventura entrassem na igreja e nos encontrasse emitindo sons ininteligíveis. Quis nos dizer, que no culto e em todas as coisas, devemos parecer pessoas normais. De outro modo, não conseguiremos inspirar confiança. O crente deve espelhar em si o Espírito de Cristo, servindo de exemplo vivo a todos os que vierem conhecê-lo. Do contrário, estaremos conspirando contra o Senhor. Ora, a regra vale também para os cultos. Atualmente, ao passarmos na frente de uma igreja evangélica em culto, nem sempre colhemos impressões agradáveis. A maioria parece ter se tornado uma casa de canto e balbúrdia. São sons emitidos por instrumentos de toda ordem: guitarras, baterias, violões; é uma cantoria sem fim. E o povo ao ir à igreja, em vez de se beneficiar com a pregação da Palavra que repreende, esclarece e conforta, envolve-se com os louvores, num frenesi tresloucado, que mais atende aos apelos do corpo, do que os da alma.

É muito triste o que se vê nas igrejas evangélicas. Martinho Lutero, em suas Obras Selecionadas, disse que havia uma preocupação com a liberdade trazida pela Reforma: a das igrejas se multiplicarem de tal maneira a perderem a unidade. Infelizmente foi o que aconteceu. A ausência de diretrizes e modelos que pudessem orientar os pastores e os próprios cultos levou as igrejas a um estado de confusão. Dias atrás assistia um culto pela televisão e vi um conhecido pastor dizer que o culto iria começar e com muito barulho. Fazia graça, afirmando que pentecostal que não é barulhento, veio com defeito de fábrica. Incrível, mas é verdade. Isso vai pelo Brasil afora e, evidentemente, não têm graça nenhuma. Não há no Novo Testamento nada que instrua este tipo de conduta, nem nele, nem no bom senso geral das pessoas. E tome louvores e todo mundo de pé, com as mãozinhas pra lá e pra cá, como se estivessem num “show” de música profana. Perguntaria Paulo: “que laços têm a luz com a escuridão?”.

Outro cenário dispensável é a parada obrigatória do culto, para pedir dinheiro, dízimos e ofertas. É constrangedor. Isso para não falar das loucas arremetidas do diabo, que faz pastores desavisados lançarem desafios a Deus; prova de renúncia (onde o sujeito vende o que têm e dá para a igreja) e outras invencionices mais. Como na igreja primitiva se falava da venda de bens pessoais para que doados à igreja se tornassem comuns, argumentos não faltam. Está na Palavra, dizem. Mas ninguém fala a respeito de se repartir o que foi arrecadado com os necessitados, membros da própria igreja. Era o que acontecia na igreja apostólica conforme o livro de Atos. Claro, o espírito não é o mesmo. Há uma intenção oculta por detrás dessas práticas. A Palavra e a história bíblica são usadas apenas para sustentar o desejo insano de se amealhar mais e mais, para fins não muito éticos. Não se deve ofertar, pagar dízimos ou colaborar com a igreja? Não estamos dizendo tal coisa. Mas é preciso usar de critérios e bom senso, para se lidar com os recursos arrecadados. A igreja de Cristo deve funcionar como uma comunidade de irmãos. E, os que têm mais, devem colaborar com a igreja de acordo com suas posses, quer dizer, semeando mais. Mas, a igreja deve ajudar os que têm menos ou nada têm. No ponto de vista da Bíblia, os recursos arrecadados têm a finalidade de pagar as despesas do templo e de ajudar irmãos necessitados. Nada mais.

Os pastores nem sempre tem formação para administrarem igrejas. Muitas são abertas somente pelo toque do Espírito, na boa-vontade, digamos. No entanto, boa-vontade não é tudo. Se de alguma maneira fomos transformados em pastores e estamos à frente de uma igreja do Senhor, nunca deixemos nos levar pela estúpida idéia de que não temos o que mudar. Temos sim e, se amamos a Jesus, devemos fazer o que for preciso para melhorar a organização da igreja. As divisões foram tantas, que levaram o movimento evangélico a um verdadeiro caos, exceção para as tradicionais casas protestantes. Mas, na confusão das “não oficiais”, temos muitos homens bons, inspirados pelo Espírito Santo, que precisam cumprir sua missão. E, se temos necessidade de mudar, porque não fazê-lo? É necessário coragem para pôr ordem na casa de Deus. Esta obra pode não interessar aos homens, mas ao Senhor, com certeza interessa e muito.

Igreja com pregação, louvor e oferta. Por que não? Todas essas coisas são necessárias para a vida dos crentes. Mas consideremos que a Palavra está acima de qualquer interesse relacionado com louvor e oferta. Louvamos mais para agradar a nós mesmos, dizendo a Deus que estamos felizes por Ele ter enviado seu Filho para nos salvar. Salvar-nos do buraco onde nós mesmos, pela nossa teimosia, nos enfiamos. Não pensemos que Deus procura quem cante para Ele, como se precisasse de agrados e apupos. O Senhor deseja um coração sincero e amor vivido em espírito e verdade: cantemos ao Senhor, mas com os corações cheios de misericórdia, de arrependimento, desejo de vida nova e amor ao próximo. O canto sobe da terra para o céu e nada mais pode fazer do que levar ao Pai a nossa mensagem de gratidão. A pregação não! Ela desce do céu para a terra nos repreendendo pelos pecados, clamando que deixemos Cristo nos salvar, pois não há outro. A pregação vem de cima para baixo; oferta e louvor vão de baixo para cima. A pregação é santa; o louvor e a oferta, sempre são marcados pelos corações impuros dos homens e desejos mais ou menos terrenos. Essa é a grande diferença entre pregar, louvar e ofertar. E isso estabelece prioridade e ordem a ser seguida no culto.

Organizemos a igreja. O culto precisa dar ênfase à pregação e ela não deve estar embotada; não deve ser atrapalhada pelo pedir de ofertas, nem pelo louvor. A pregação dever ser acompanhada pela leitura das Escrituras, pois a alma do crente está sendo instruída, nada mais nada menos pelo Espírito Santo. Como vamos atrapalhar este ato de iluminação, parando para pedir dinheiro ou para cantar? É evidente que a atenção e o aprendizado serão prejudicados. Pregue-se primeiro, louve-se e cuide-se das ofertas depois. Se possível que as ofertas sejam feitas fora do culto; para que não pareça que a igreja tem a incumbência indispensável de arrecadar, o que não é verdade. Se a igreja constituir-se como comunidade de membros definidos, cada um saberá de suas obrigações financeiras e um eficiente secretário, poderá providenciar o recebimento das ofertas, dízimos ou sejam lá os nomes que se dê a tais doações. Tudo deve ser contabilizado; as contas devem ser transparentes, para que os membros saibam o que se faz com os recursos da comunidade. Os recursos não são do pastor, nem de nenhuma organização mãe (como se faz muito no Brasil). Os recursos são da comunidade, dos irmãos, para o bem de todos e das obras de Deus, a serem realizadas pela igreja. Este é o caminho e todo o crente, seja pastor ou não, será cobrado por ter cuidado ou não, dos talentos que Deus depositou em suas mãos. E, tenham a certeza de que os talentos de que fala o Evangelho, as traças não corroem nem os ladrões roubam.

A Palavra de Deus

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